As Perspectivas de Atuação da Imprensa

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Enviado por eopen em sex, 16/03/2012 - 16:30

Jornalistas debatem perspectivas de atuação da imprensa no desenvolvimento institucional brasileiro

Por Beatriz Montesanti

Os estudiosos concordam que aprendemos muito sobre o futuro quando estudamos o passado. Foi seguindo esta lógica que o professor Eugênio Bucci, da ECA, abriu a palestra “As Perspectivas de Atuação da Imprensa no Desenvolvimento Institucional Brasileiro”,  do ciclo Brasil do Futuro.

“No caso da imprensa no Brasil, há dois motivos muito fortes para estudarmos sua história: a política difusa de esquecimento e o fato de que a imprensa depende muito do empreendimento”. Ou seja, para o professor, a imprensa depende da criação de iniciativas, da gestão, o que só se aprende com retrospectivas. Nada mais adequado, portanto, do que um breve histórico da imprensa no Brasil.

“Nos 511 anos do país, o período de liberdade é muito curto”, comentou Bucci, lembrando da censura portuguesa até 1808 e perpetuada com a chegada da corte. O Correio Brasiliense, lançado em junho daquele ano, foi o nosso primeiro jornal, e era impresso em Londres, circulando no Brasil com uma potência e influência muito forte. Seu editor, José Hipólito da Costa, havia sido preso em Portugal por ser maçom, fugiu e estabeleceu-se na capital Britânica. Porém foi nessa época que iniciaram as contradições entre imprensa e poder no Brasil: Hipólito era sustentado por D.João com uma espécie de mesada. Essa seria uma forma de exercer influência em seu conteúdo.

A imprensa dita livre, mas patrocinada, torna-se um denominador comum: o jornal Última Hora, de Samuel Weiner, é também um exemplo que contava com o apoio político, neste caso de Getúlio Vargas. “O ideal de imprensa livre e crítica demorou para se consolidar entre nós”.

O financiamento das mídias é uma questão delicada, que põe em cheque as ações empreendedoras. Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado, também presente na mesa, tomou a palavra. Para ele, a sociedade brasileira ainda tem uma visão incompleta do papel do empreendimento: “A nossa visão de um coletivo que se reúne para ofertar um bem é afetada por razões históricas que levam a uma interpretação pejorativa. Que dirá de uma empreitada específica de um grupo de pessoas que se reúne para exportar informação?”

O permanente dilema entre privado e público foi amplamente discutido pela mesa. “Existe um interesse político que prevalece sobre a informação pública. Empresas privadas atuam no espaço da mídia e há uma tensão entre interesse público e privado.”, comentou Silvio Caccia Bava, editor do Le Monde Diplomatique Brasil e coordenador geral do Instituto Pólis, quanto ao controle de cadeias de reprodução nacionais. “Temos jornais impressos que têm a capacidade analítica de criar essa agenda e contribuir para a opinião pública. Não basta só recebermos informação, já a recebemos de todos os lados, mas como vamos compreendê-la? Como vamos analisá-la?”

Para ele, “o desenvolvimento institucional do Brasil só pode se dar enfrentando os grandes desafios, heranças das cidades mastodôndicas: desigualdade, pobreza, educação...”. De acordo com Caccia Bava, a lógica do modelo se reproduz: ainda vigoram as regras dos anos 90, ligadas às políticas neoliberais, nas quais o espaço público serve ao livre mercado e não ao livre direito.

Caccia Bava acentuou como a lógica da imprensa deve obedecer a regras de competitividade para obter lucro, enquanto o jornalista, em si, deve se propor a realizar um bem público, independente das origens de financiamento e empreendimento do veículo para o qual escreve.
E ilustrou a ideia com o exemplo de um jornal inglês que decidiu apenas divulgar boas notícias. O resultado desta iniciativa: “[o jornal] Quebrou...”.

Concluindo as discussões, Gandour lembrou: “Um país só tem futuro com um arcabouço político robusto do qual a imprensa livre é o pilar central.”.