O processo de decisão da TV digital

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Enviado por eopen em sex, 16/03/2012 - 16:09

Renato Cruz apresentou os fatores envolvidos na decisão pelo modelo de TV digital no Brasil.

Por Renata Hirota

No último dia 16, o núcleo Decide, da FEA, realizou seminário que discutiu a tecnologia e decisões governamentais no processo decisório da TV digital brasileira. O palestrante convidado foi Renato Cruz, jornalista do Estado de São Paulo da área de tecnologia. O núcleo

Decide, coordenado pelo professor Abraham Sin Oih Yu, trabalha com pesquisa e ensino na área da tomada de decisões organizacionais.

O sistema de TV digital foi escolhido no Brasil em 2006, mas o processo se estendeu por mais de 10 anos, começando em 94. O sistema implantado consiste do sistema japonês ISDB (acrônimo para Integrated Services Digital Broadcasting) com algumas modificações tecnológicas, como por exemplo a compressão de vídeos em MPEG-4 em vez de MPEG-2, como no modelo japonês.

A nova TV

De acordo com Renato Cruz, existem alguns aspectos que são característicos da televisão digital, como por exemplo a imagem em alta definição. Em comparação com a analógica, a digital é seis vezes melhor, ou seja, um número seis vezes maior de pontos compõem a imagem. Outra característica, muito defendida pelas emissoras de televisão, é a mobilidade, o que possibilita que aparelhos móveis como celulares captem sinais de televisão.

O processo

Segundo ele, se fosse só por questões técnicas, a decisão já poderia ter sido tomada em 2001. Desde 94, as emissoras estudavam a tecnologia, e em 2000 o Mackenzie comparou os três  adrões internacionais: europeu, americano e japonês. O último se adequava mais à questão da  mobilidade, além de o sinal para celular ser transmitido dentro do próprio canal de TV, o que possibilitava um maior controle. “As emissoras temiam que, se a tecnologia de transmissão não fosse no próprio canal, esse canal fosse parar nas mãos das empresas de telecomunicações.”

No entanto, entraram no processo outros fatores que afetaram a decisão, como por exemplo o fato de que em 2001 os grupos estarem endividados, sem condições para fazer esse investimento. O fator político também pesou bastante, afinal os radiodifusores possuem representatividade maior no governo em comparação aos outros grupos interessados, como a indústria e a academia.

A participação dos grupos na decisão

Cruz apontou a radiodifusão como o grupo com maior interesse no processo, embora houvesse

uma pequena participação também da academia – Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-Rio) – no desenvolvimento do Ginga, middleware (programa de computador que faz a mediação entre software e demais aplicações) responsável pela interatividade da TV digital.

Diferentemente de outros países, como os Estados Unidos, Cruz diz que a indústria no Brasil, para quem o padrão americano seria muito interessante por conta dos equipamentos já adaptados, teve quase nenhuma participação no processo decisório.

Última voz foi do governo

Cruz destacou que, no fim, o governo foi o agente que realmente tomou a decisão. Mais do que problemas tecnológicos ou econômicos, o que realmente fez a diferença foi a articulação que cada grupo teve para negociar seus interesses frente ao poder político. “Por mais que tenha sido uma escolha dos radiodifusores, virou uma decisão do Ministério das Telecomunicações, por meio de decreto presidencial. E ninguém quer comprar briga com o governo.”