V Congresso da Civilização Yoko discute Rio+20

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Enviado por eopen em qui, 19/04/2012 - 13:28

> Congresso na FEA teve por tema a reflexão sobre o futuro que queremos, no ano em que o país cedia a Rio+20.

Por Beatriz Montesanti

“Não queremos salvar o planeta. A expressão mais correta seria dizer ‘salvar a civilização sobre ele’, pois o planeta, como já fez antes, se recicla”.

A observação acima, do professor, jornalista e consultor Ricardo Voltolini, fez parte do 5º Congresso da Civilização Yoko, que ocorreu sábado, 31 de março, no auditório do FEA-5. O evento foi organizado por uma parceria entre o Instituto de Pesquisa da Civilização Yoko (IPCY) e o Núcleo de Estudos em Contabilidade e Meio Ambiente (NECMA/USP) e teve por tema a reflexão sobre o futuro que queremos, no ano em que o país cediará a Rio+20.

Energias e limites do planeta

O Professor José Goldemberg foi o primeiro a palestrar. Goldemberg, que já foi agraciado com o Prêmio Planeta Azul, considerado o Nobel do Meio Ambiente, esclareceu por que a humanidade apenas começou a se preocupar com a sustentabilidade do planeta no fim do século 20: “Até 50 anos atrás, a impressão que os seres-humanos tinham é de que não havia limites para suas atividades, o principal perigo que havia eram as guerras entre países, e de fato, os homens se mostraram extremamente competentes em se auto-destruírem, mas o impacto na natureza não era tão intenso, era mais limitado”, observou.

De acordo com Goldemberg, os inúmeros fenômenos naturais que ocorrem em nosso planeta, tal qual erupções vulcânicas, terremotos e furacões, movem cerca de 50 bilhões de toneladas de matéria anualmente. Os homens, durante muito tempo, movimentavam uma quantidade ínfima de matéria diante deste número, pois não havia tecnologia para tanto. Hoje, porém, foi constatado que cada pessoa movimenta cerca de 8 toneladas. “Só de gasolina, é 1 tonelada por pessoa. Com 7 bilhões de seres humanos no mundo, dá 56 bilhões de toneladas por ano”, calculou o professor. Aproximadamente igual à quantidade de matéria que os efeitos físicos naturais representam. “Pela primeira vez na historia nos tornamos uma ameaça ao ambiente”.

Grandes eventos, conferências, reuniões, foram realizadas a nível mundial a fim de discutir estes problemas politicamente. Neste contexto, ocorreu a Rio 92. No entanto, como mostra o professor, o evento que moveu o Rio de Janeiro há 20 anos, já está bem desatualizado: “Naquela época, países como Rússia, China, Índia e Brasil não consumiam muita energia. Hoje, a China supera os EUA em níveis de consumo. Esta é a ocasião para se tomar medidas mais fortes do que as de 92, universalizando as medidas para os demais países”, orientou.

Economia verde

O professor Carlos Eduardo Lessa Brandão falou sobre a chamada economia verde, cuja ideia central seria um conjunto de processos produtivos que contribuam cada vez mais para a sociedade.

Para Brandão, a economia verde tem muito a ver com governança global: “Temos organizações governamentais internacionais, mas vemos que elas não são o suficiente para tratar de todos os assuntos. O que tem havido, portanto, é um crescimento das organizações não governamentais, que estão ocupando o espaço no qual as governamentais não avançam em ritmo adequado”.

Essas ONG’s, porém, têm um grande desafio para manter sua legitimidade: muitas medidas encontram dificuldade para tornarem-se mandatórias, ou seja, integrarem a legislação de um país. A regra na qual empresas com ações na bolsa devem reportar em seus relatórios sua política ambiental, por exemplo,  ainda não é mandatória aqui no Brasil, porém já é obrigatória na Suécia, Dinamarca e África do Sul.

“O que vemos hoje é um foco muito grande em se gerar lucros para o acionista, em detrimento da garantia de que a empresa está fazendo um bem para a sociedade como um todo. A empresa não pertence ao acionista, que é dono de um pedaço de capital. Ele não fica com o risco residual sozinho, só perde até o montante que investiu. A sociedade é que banca a diferença”, criticou o professor.

Para Brandão, esta visão de curto prazo gera problemas na sociedade e no meio ambiente. “A sociedade depende do meio ambiente, e não o contrário. Há uma visão invertida: as coisas estão no planeta, e não o planeta está inserido em nossa economia”, concluiu, reforçando a ideia de que a preocupação ambiental não deveria apenas ser uma parte da política da empresa, por vezes, de fachada.

Liderança Sustentável

O jornalista Ricardo Voltolini apresentou à plateia ideias que devem ser discutidas durante a Rio+20 ou, como disse, que pelo menos deveriam ser.

Um dos principais pontos ressaltados pelo jornalista como primordial para uma mudança de paradigma na atuação de empresas, está a existência de uma liderança sustentável: “Não nos falta conhecimento técnico para fazer mudança em modelos de negócio. Não nos falta ideias, nos falta líderes com valores. Fiquei curioso por que a sustentabilidade avançava mais na cultura de algumas empresas do que outras. Descobri que não faltava dinheiro, recursos, mas um CEO apaixonado pelo tema que sentasse na cadeira que toma as decisões”.

Assim, Voltolini entrevistou uma série de CEO’s de grandes empresas brasileiras, o que culminou em seu livro “Líderes sustentáveis”.  Alguns não quiseram ser entrevistados, outros mostraram não ser tão sustentáveis quanto alegavam. “Ao fim, cheguei a dez caras que praticam e usam valores nobres na tomada de decisões dos negócios. Esses caras fizeram mudanças importantes, por isso, para mim, sustentabilidade começa dentro de cada um”.

Voltolini concluiu com sua visão acerca do evento que se aproxima: “Eu como jornalista sou um cético, como consultor de sustentabilidade sou otimista. Acho que teremos boas discussões na Rio+20, mas não bons acordos. Boas ideias em um cenário emblemático. Aposto na ideia de que sermos o principal player global. Antes éramos por ter o maior patrimônio, hoje pela nossa ciência e conquistas na produtividade, e pela legião de líderes que vão fazer a diferença”.

Ser-humano

A palestra do professor Nivaldo Osório teve um foco diferente: “Tive o privilegio de participar da Eco-92 e observei muitas coisas importantes no objetivo de cumprir uma mudança. Também observei nesses 20 anos que é preciso fazer mais reflexões sobre o ser-humano. Nada ocorre por acaso”, introduziu.

A partir de reflexões sobre o sentido da vida na terra, Osório lembrou a plateia de que este é o único planeta adequado para o ser-humano viver. “Se o ser-humano foi projetado para nascer no mundo material e cumprir uma função, vamos ter que fazer uma reflexão. Estamos aí no início de um fracasso. Estamos brigando por coisas lineares e esquecemos que existe um propósito, que podemos ressuscitar graças aos caminhos desenvolvidos”, alertou.

Yoko é uma palavra japonesa que significa brilhante, radiante, energicamente positivo. Foi, de fato, em busca de algo positivo, que este evento aconteceu.