João Mello
Diversidade e Inclusão têm sido pautas frequentes no debate político dos últimos anos. Atento a essa tendência, o Escritório de Desenvolvimento de Carreiras da USP (ECar) convidou a jornalista e mestre em administração pela FEA, Maria Tereza Gomes, para entrevistar Cassiano Mecchi no Talk Show: Diversidade & Inclusão - Conciliando a paixão por justiça social com a sua carreira.
Cassiano, que se define como um "ativista social secretamente infiltrado no setor corporativo", tem uma longa trajetória em formulação de práticas de recursos humanos como gestor de diversidade e inclusão em grandes empresas. Ele compartilhou suas experiências de carreira e revelou quais os desafios para tornar o ambiente de trabalho confortável para qualquer pessoa.
A partir de uma breve participação no início do Talk Show, o vice-reitor da USP, Antônio Carlos Hernandes, falou sobre como a questão da diversidade e inclusão tem sido fundamental dentro do ambiente universitário. A USP possuía uma taxa de inclusão social por cotas no vestibular muito baixa, cerca de 27% em 2017, mas conseguiu aumentar esse número rapidamente, e chegará aos 50% em 2021.
A USP não apresentava uma grande diversidade quando Cassiano entrou na FEA, no curso de Administração. Ele conta que havia apenas uma pessoa vinda de escola pública em sua sala. Nessa época, ele compreendia sua homossexualidade e envolveu-se com questões sociais, ao participar de diversas entidades, entrar no grupo "gays na USP" e desenvolver um trabalho de conclusão de curso sobre diversidade sexual nas empresas brasileiras. "Todas as oportunidades que eu fui abraçando, foram me construindo como eu sou."
Apesar de sentir acolhido nos ambientes universitários que frequentava, Cassiano questionava-se: "Será que o mercado de trabalho formal me aceita? Ou eu terei que voltar para o armário depois que me formar?". Ele observa que, entre muitas pessoas, existe uma supervalorização das paixões e do ativismo que as impede de profissionalizar uma causa e, portanto, gerar um alcance maior. O que ele entendeu em seu primeiro emprego, na Danone, foi que ele poderia praticar o job-crafting, ou seja, moldar a sua carreira e suas funções de acordo com aquilo que o interessava.
Na Danone, ele promoveu um projeto que não pertencia ao escopo de sua função: promover diversidade e inclusão para pessoas com deficiência dentro da empresa. Depois dessa experiência, foi contratado para liderar o grupo de diversidade LGBT+ da Google, no Brasil e na Irlanda, e hoje exerce o mesmo cargo no Spotify, na Inglaterra.
Seu trabalho consiste em conversar com lideranças de empresas, fazer um "raio-x" da organização em termos de diversidade e pesquisa de clima para, então, mapear a situação e montar um projeto de diversidade e inclusão juntamente a essas lideranças. Outra parte importante é "garantir que existe representatividade onde importa, e repensar se o poder de tomar decisões está concentrado em um grupo muito homogêneo"
Cassiano apontou para a necessidade de tratar tanto de diversidade, quanto inclusão, porque são conceitos diferentes, que se complementam e que, portanto, não podem ser bem-sucedidos um sem o outro.
Diversidade se refere a garantir que existam pessoas diferentes, em diversos níveis da hierarquia de uma empresa. Isso porque inserir pessoas diferentes das que a empresa costuma contratar apenas na base da hierarquia, muitas vezes, pode resultar em uma subutilização e marginalização dessas pessoas, que não chegariam ao topo da maneira merecida por conta da formação de redes de influência dentro das corporações. E isso tudo é influenciado por "quem escreve as regras, tanto as explícitas quanto as implícitas".
Já a inclusão está relacionada a preparar o ambiente para receber pessoas diferentes, de modo que não seja um ambiente hostil. Essa preparação precisa ocorrer tanto para que a cultura organizacional quanto a estrutura sejam acolhedoras e valorizem essa diversidade.
Ainda, Cassiano Mecchi apontou como é mais fácil promover diversidade do que inclusão, simplesmente ao contratar pessoas diversas. Entretanto, essa seria uma "premissa ingênua", uma atitude provisória, incapaz de fundamentar princípios de diversidade dentro da empresa. "É preciso haver pensamento sistêmico."
Cassiano, apesar de ver um grande salto em termos de diversidade e inclusão nas empresas, reconhece que ainda há muito pelo que trabalhar. As empresas mais jovens e de tecnologia parecem estar mais avançadas nesse quesito do que setores mais antigos e tradicionais. Mesmo em empresas mais diversas em termos de sexualidade, por exemplo, o gestor aponta que há uma supervalorização do "G" em LGBT+ e que pessoas transsexuais ainda são muito invisibilizadas e apresentam uma baixa empregabilidade.
Saindo do Spotify, Cassiano assumirá em breve o cargo de gestor de diversidade e inclusão na Netflix, em Amsterdam. Para o futuro, ele espera que questões de diversidade e inclusão sejam levadas para fora da área de Recursos Humanos e sejam pensadas de maneira transversal, considerando toda a cadeia produtiva de uma empresa de modo a usar essa lente para causar um impacto social significativo. Cassiano aconselha que devemos sempre olhar para os lados no ambiente de trabalho e pensar "quem eu posso trazer junto comigo?".