Poupatempo reduz em 25% os minutos gastos para emitir documentos, mas qualidade dos serviços é pouco impactada

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Enviado por milenan@usp.br em ter, 24/11/2015 - 16:01

No Brasil, os serviços públicos são geralmente criticados pelo atendimento (quase sempre considerado ruim) e pela alta carga de processos burocráticos, que os tornam lentos e ineficientes – além de fontes potenciais de estresse.

No Brasil, os serviços públicos são geralmente criticados pelo atendimento (quase sempre considerado ruim) e pela alta carga de processos burocráticos, que os tornam lentos e ineficientes – além de fontes potenciais de estresse. Em São Paulo, o Programa Poupatempo foi criado em 1997, como forma de facilitar o acesso do cidadão aos serviços públicos, reunindo em um único espaço diversas empresas e órgãos prestadores de serviços, principalmente de emissão de documentos. Hoje, 18 anos depois da primeira unidade, pesquisa aponta que, com o programa, o atendimento à população é mais rápido, mas a qualidade dos serviços não é muito impactada.

O autor da pesquisa, Anders Fredriksson, com pós-doutorado na FEA, procurou descobrir se o programa realmente é capaz de poupar tempo e se a qualidade dos atendimentos é melhor, além de avaliar a localização dos serviços e como poderiam ser mais eficientes. O Poupatempo foi usado como espécie de modelo para fazer uma avaliação do impacto de serviços públicos e análise de localização das instalações. Fredriksson apresentou os resultados dessa pesquisa no último seminário “CORS in Focus”, em 6 de novembro.

Entre 2008 e 2011, foram instaladas 16 novas unidades do Poupatempo no interior, totalizando 60 unidades por todo o estado. Geralmente, o programa é alocado de acordo com a população das cidades e em pontos que possam atender a uma região específica, mas a pesquisa apontou que podem existir outros fatores, como os partidos políticos dos prefeitos dos municípios, o que facilitaria a escolha da cidade para receber uma unidade. De acordo com o estudo, teria sido possível uma ligeira diminuição na distância média entre o cidadão e a unidade mais próxima dos atuais 40,2 km para 37 km – tendo como base o ano de 2013.

Para quantificar o tempo poupado pelo programa, Anders e equipe entrevistaram de forma aleatória pessoas dos municípios em que as 16 novas unidades foram fixadas, além de outros 15 municípios como controle. O foco foi a renovação da carteira nacional de habilitação (CNH), que antes podia ser renovada apenas no Detran. A equipe entrevistou tanto pessoas que usaram o programa quanto que mantiveram o método antigo, e cadastrou todos os passos seguidos para conseguir a renovação. O resultado mostra que 80% opta por renovar a CNH no Poupatempo. Antes, eram gastos 294 minutos em média para conseguir o documento, contra atuais 225 (poupando 25% do tempo); os 11 dias empregados foram reduzidos para 5.

O pesquisador calculou que os minutos poupados para o total de CNHs renovadas renderiam R$ 11,3 milhões de benefício em um ano. O estudo mostrou, no entanto, que apesar da redução do tempo para completar o serviço, o Poupatempo parece não impactar na qualidade dos serviços. Por exemplo, o tempo gasto com o exame médico requerido para renovar CNH não é o ideal. O pesquisador estima que o custo relacionado à renovação de CNH nos 16 Poupatempos seja de R$ 7 a 9 milhões, mas afirma que podem faltar componentes neste cálculo, devido à dificuldade de calcular o valor exato com as informações disponíveis publicamente.

Autora: Letícia Paiva