A Locomotiva dos Países em Desenvolvimento

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Enviado por eopen em sex, 16/03/2012 - 16:35

> Otaviano Canuto falou na FEAUSP sobre a importância das economias emergentes no cenário mundial.

Por Beatriz Montesanti

O professor Otaviano Canuto encerrou o Ciclo de Conferências Desafios da Globalidade: as Assimetrias da Sociedade Internacional na quarta-feira, 26 de outubro. Canuto, que já foi professor de economia do Instituto de Relações Internacionais da USP, o IRI, hoje é Vice-presidente para Redução da Pobreza do Banco Mundial. “É sempre bom voltar a casa“, iniciou.

O professor utilizou a metáfora da locomotiva para falar sobre importância das economias em desenvolvimento na atualidade. Para ilustrar seu ponto, apresentou um gráfico de “acoplamento” e “desacoplamento”, no qual linhas pontilhadas refletem as taxas de crescimento dos dois conjuntos da economia: os países desenvolvidos e aqueles que dependem deles. O gráfico deixa claro como o crescimento nos dois grupos de países está extremamente relacionado: quando um vetor sobe, o outro desce. No entanto, a partir de 2000, a situação começou a mudar: países ditos pobres passaram a apresentar uma tendência de crescimento estonteante, enquanto as grandes economias enfrentavam crises.

Com esse diferencial de crescimento das economias avançadas está acontecendo uma mudança no peso das economias pequenas no PIB mundial. “Dizem que em torno de 2015 haverá uma troca de posições entre as economias globais. Outros dizem que isso ocorrerá em 2020. O fato é que já está acontecendo essa troca no PIB global”, comentou.

Como outra prova disso, mostrou o gráfico da razão da dívida pública em relação ao PIB: “Se mostrasse a 4 anos atrás, vocês iam me chamar de louco”, comentou sobre as retas que representavam a redução da dívida pública de países pobres e emergentes nos anos anteriores à crise. Para Canuto, isso ocorreu porque os programas de perdão de dívida, nesses países, foram acompanhados de capacitação na área de gestão de dívidas.

Por que os países crescem

Dentre os motivos elencados para a saúde fiscal dos países mais pobres, está o alto retorno potencial de investimentos em infra-estrutura. De acordo com o professor, a área é um ótimo espaço para alavancagem do setor privado, devido a carência de investimentos.

Como exemplo, comparou o Japão durante a crise asiática com o Brasil na atualidade. No primeiro, uma rua poderia ser recapiada até seis vezes em cinco anos, era o mecanismo keynesiano de tentar gerar emprego, mesmo com um retorno social baixo. Por outro lado, no Brasil, entre a produção de soja e a chegada nos portos se perde entre 25 e 30% do produto por falta de investimentos na infra-estrutura de transporte. O uso do dinheiro público neste setor pode, portanto, gerar um impacto gigantesco.

Outro motivo para a inversão econômica é a tecnologia. De acordo Canuto, “as economias em desenvolvimento têm um benefício potencial enorme de terem a sua produtividade aumentada pura e simplesmente adaptando tecnologias já existentes”.

Por fim, há o fato de que serviços que não eram transacionados entre fronteiras hoje estão internacionalizados, graças aos custos e às facilidades da comunicação, que permitem quebrar um ciclo produtivo em diversos segmentos e definir locais no mundo nos quais a produção é mais barata. “A expressão dessa decomposição vertical através das fronteiras se expressa no fato de que o comércio que mais cresce no mundo é entre países do sul. Através desse processo tem-se tornado possível a transferência  de tecnologias mais adaptadas”, comentou.

O professor assinalou o fato de que se está criando um mercado com características diferentes do tradicional onde adaptações tecnológicas tentam ganhar espaço, como o carro nano na índia, de 2 mil dólares, e o equivalente ao iPad indiano, que chegará às lojas por 35 dólares.

No entanto, Canuto não se contenta apenas com números: “Não quero passar para vocês uma visão ‘Polyana’”, comentou, referindo-se a personagem otimista da literatura infanto-juvenil. Para ele, deve haver a correspondente formação educacional, provisão mínima de infra-estrutura e outros fatores. “O maior risco que corremos no Brasil é de complacência. Deitar em cima dos louros e relaxar, sem seguir adiante com o programa”, concluiu.