Especialistas indicam fatores da desindustrialização no país

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Enviado por eopen em ter, 03/07/2012 - 11:32

> O CAVC trouxe à FEA um ciclo de discussões sobre o panorama socioeconômico do Brasil.

Por Rodrigo Dias Gomes

A série de palestras Brasil do Futuro, organizada pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC), da FEA, trouxe à universidade discussões sobre o panorama socioeconômico do país. Entre os temas discutidos em dois dias de evento, o recuo da participação da indústria no PIB brasileiro ganhou destaque nos debates.

Na palestra de abertura, o economista Edmar Bacha, ex-presidente do BNDES e um dos mentores do Plano Real, apontou alguns motivos da desindustrialização, entre eles, a migração da mão-de-obra do setor industrial para o setor de comércio e serviços, por este apresentar uma maior rentabilidade. Ele contextualiza o país no quadro de valorização de recursos naturais, outro fator a ser considerado ao analisar o problema industrial.           

Bacha acrescentou, ainda, que a desindustrialização não é um tema recorrente apenas no Brasil, pois vem ganhando força em outros países e norteando discussões políticas na França e nos Estados Unidos, que estão em ano eleitoral. Ele comentou também sobre a presença de montadoras internacionais que atuam no setor automobilístico no país, e não vê grandes problemas na questão. “A participação do capital estrangeiro é muito importante, desde que não comprometa a soberania nacional”, diz o economista.           

Sistema tributário é o grande obstáculo para a indústria

Entre as possíveis soluções para o problema industrial brasileiro, Edmar Bacha citou a reforma do setor público, que é ineficiente no investimento em infraestrutura, maior inovação na indústria, melhor educação, e defendeu mudanças no sistema tributário nacional, o mais caro do mundo.           

A tributação foi tema recorrente no segundo dia de palestras. A economista Maria Helena Zockun, coordenadora de pesquisas da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), classificou a pesada carga de impostos na produção como um dos grandes fatores de desqualificação da indústria no país. Para ela, além de custos financeiros, as empresas perdem muito tempo tratando de questões tributárias, quando poderiam estar investindo em melhorias e inovações. Segundo dados da consultoria PwC, empresas brasileiras gastam cerca de 2600 horas por ano com acompanhamento e pagamento de impostos. O índice coloca o Brasil no topo do ranking mundial, enquanto países desenvolvidos possuem números até 13 vezes menores.          

Zockun enxerga que o Brasil precisa superar desafios como a concorrência asiática e o novo patamar da taxa de câmbio, e, para isso, é necessária uma maior transparência nos tributos, e o envolvimento da população brasileira nas discussões é fundamental. “A sociedade precisa ter consciência do problema e fazer pressão”, diz a economista, que defende também a alíquota única para produtos iguais.   

A palestra também teve participação de Mário Bernardini, assessor da Presidência da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos, a ABIMAQ, que analisou os efeitos do Custo Brasil na competitividade da indústria brasileira. Ele enumerou fatores que contribuem para o desvantagem da indústria no Brasil, em comparação com países desenvolvidos como Estados Unidos e Alemanha, que tornam o preço nacional 43% mais caro que o produzido no exterior.  

Segundo estudos, o preço de insumos básicos e os juros aplicados sobre capital de giro são os principais componentes do alto índice, e são causados, entre outros motivos, por altos custos de investimentos, infraestrutura e logística ineficientes e alta incidência de impostos não recuperáveis na cadeia produtiva. Para Bernardini, esse tipo de imposto precisa ser eliminado se o Brasil quiser apresentar boa competitividade no setor industrial. “O nosso sistema tributário é um desastre”, conclui o palestrante.