Conferências USP: desafios da globalidade

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Enviado por eopen em ter, 30/04/2013 - 12:13

O impasse na diplomacia sobre as alterações climáticas foi tema do Ciclo 2013 das Conferências USP

Por Rodrigo Dias Gomes

David

O impasse na diplomacia global acerca das alterações climáticas foi o tema do Ciclo 2013 das Conferências USP: desafios da globalidade. A FEA recebeu a visita de David Victor, professor da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), renomado estudioso da questão ambiental. Ele é autor do livro Global Warming Gridlock, publicado em 2011, onde faz uma abordagem sobre a ineficácia das discussões globais acerca dos problemas climáticos e emissão de dióxido de carbono na atmosfera.

Para Victor, a discussão de problemas relacionadas ao clima está intimamente ligada a diversos outros assuntos globais, como coordenações financeiras, direitos humanos e até tratados de não-proliferação de armamentos nucleares. "O problema não é só a mudança no clima, mas uma diversidade de outros assuntos relacionados. Em quase todo aspecto da diplomacia internacional encontramos esse impasse", aponta o professor. Porém, na prática, o que se observa é a falta de resultados concretos das resoluções impostas nas discussões entre os países.

Segundo o professor, a situação é grave, e as preocupações no campo da ciência são maiores que há 10 anos. "Questões que os cientistas pensaram estar resolvidas há uma decana, como o derretimento das calotas polares, é um assunto cada vez mais relevante nos dias de hoje", diz Victor. "As coisas tendem a ser piores do que pensávamos", conclui.

Embora as discussões tenham se aprofundado desde o início dos anos 90, as ações não acompanham o ritmo dos discursos. A emissão de dióxido de carbono, o principal agente do aquecimento, apresenta um crescimento ao longo das últimas duas décadas, e a expectativa é que continue crescendo até o final do século. Com isso, a expectativa estabelecida em manter o aumento da temperatura em no máximo 2 graus é cada vez mais difícil de ser cumprida, e cientistas já trabalham com a hipótese desse número subir para até 4 graus.

A mudança passa, invariavelmente, por reduções drásticas de até 50% na emissão de gases estufa. Segundo Victor, embora o aquecimento tenha a contribuição de fatores como ao crescimento da população e renda per capita dos países, o foco de ação deve ser a redução da emissão de dióxido de carbono, principalmente na queima de combustíveis. Ainda que o protocolo de Kyoto tenha tido algum sucesso em definir metas de redução da emissão, o tratado não trouxe mudanças significativas no impacto das emissões. "Desde os anos 90 até aqui, a eficácia da diplomacia na questão ambiental é próxima de zero", aponta.

Apesar de um cenário pouco positivo, Victor acredita que é possível alterar o quadro e obter resultados no longo prazo. "Nós podemos tratar o problema climático com mais eficiência, mas será algo muito difícil", diz. Para ele, a solução está na adoção de uma diplomacia mais inteligente aliada a ações mais eficazes. Uma das estratégias propostas por Victor é a fragmentação política e a discussão em grupos menores, já que algo em torno de doze países (lista encabeçada por China e Estados Unidos, além de países emergentes como Brasil, Índia e México) sozinhos são responsáveis por 75% das emissões de gases poluentes. "Quanto maior o número de países envolvidos na discussão, mais difícil será encontrar soluções para problemas tão complexos quanto esses", conclui Victor.