Após 41 anos, Bigode se despede da FEA

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Enviado por eopen em ter, 03/07/2012 - 11:38

> Após 41 anos de FEA, Bigode se aposenta e deixa muitas lembranças para a faculdade.

Por Rodrigo Dias Gomes

O último mês marcou a despedida de uma das grandes figuras da FEA. Francisco Gregório da Costa, mais conhecido como Bigode e famoso por vender doces em seu carrinho na faculdade, voltou para a sua terra natal, a cidade de Nova Açores, no interior da Bahia. O adeus põe fim a uma trajetória de alegrias e amizades, e deixa  seu nome na história da instituição, mesmo sem nunca ter passado pelas salas de aula.

Bigode foi mais um entre milhões de nordestinos que buscaram a sorte na maior cidade do Brasil. Chegou à USP  no dia 8 de abril de 1971 (data carinhosamente marcada na memória dele) e, nesses mais de 40 anos, colecionou histórias, e conheceu alunos, professores e funcionários de várias gerações. Em entrevista ao Visconde, periódico do CAVC, Bigode contou alguns casos que presenciou na FEA, desde o encontro com nomes importantes da economia, como o ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, até um assalto em frente à faculdade.

Aposentado, Bigode encontrou na venda de doces um complemento para sua renda. Ele ficou até 1998 na entrada principal da FEA. Após a reforma do local, foi deslocado para a saída do estacionamento da faculdade. Vendeu cachorro-quente por algum tempo, mas se popularizou mesmo com os doces dos mais variados tipos e gostos.

“Ele é uma figura inesquecível aqui dentro”. As palavras são do prof.° Marcos Campomar, a quem Bigode chamava de Marquinhos. Campomar conheceu Bigode quando fazia graduação na FEA, no começo da década de 70. Desde então, os dois conservaram uma relação de amizade, que durou até os dias atuais, quando Campomar se tornou professor. Para ele, Bigode é um ponto de referência da faculdade, pois conhecia todo mundo. “Muita gente conversava com ele, então ele viu uma história inteira passar”, conta o professor.

Campomar teve uma ligação especial com Bigode, ao oferecer para filho dele uma vaga de estagiário como office-boy. Além disso, até mesmo os filhos do professor compravam doces com o ambulante. O professor destaca o fato de Bigode deixar que os próprios clientes retirassem o troco. Um ato de confiança adquirida com o tempo.

Questionado se pretende voltar, Bigode acha difícil, pelo menos até o final desse ano. “Só Deus é quem sabe, viu?”, diz. Ele vai levar parte da família na viagem, que, segundo ele, tem como principal motivo o descanso. Um descanso merecido para quem dedicou quase meio século de sua vida ao simples carrinho de doces. “A gente foi passear lá em dezembro e minha filha, nascida e criada aqui, ficou doida pra voltar pra lá”.

Bigode vai embora com a certeza de que deixará saudades. “Quando eu for na Bahia, vou visitar ele”, diz o professor Campomar. Os alunos fizeram um churrasco em sua homenagem, com a presença de seus familiares. A FEA perde um de seus grandes personagens, mas terá seu nome eternizado nos corredores, ao lado de tantos outros. É a recompensa por anos de dedicação, e a prova de que o legado de uma faculdade não se baseia apenas em pesquisas e trabalhos acadêmicos.