Alumni e a América - Venezuela

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Enviado por eopen em ter, 18/09/2012 - 14:35

> Expedição 4x1 já saiu do Brasil - Mérida e alguns retratos da Venezuela

Texto retirado do Site Expedição 4x1. Acesse para ver as fotos da expedição e outros textos.

 

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Ficha 4×1

Data: 03/08/2012 a 06/08/2012

Saímos de: Ciudad Bolívar – Venezuela

Paramos em: Valencia e Mérida

Destino: Ciudad Ojeda – Venezuela

Distância Total: pouco mais de 1.800 km (em 4 dias)

Trajeto: De Ciudad Bolivar seguimos em direção à Barcelona e depois à Caracas até que paramos em Valencia para dormir. De Valencia seguimos para Mérida. De Mérida para Ciudad Ojeda passamos por Valera e Agua Viva (caminho diferente da ida para Mérida). Estradas no geral com boas condições, no entanto, em geral, em mão dupla.

*obs.: Percebemos que na Venezuela seria mais apropriado seguirmos as placas do que o próprio GPS. O GPS apontava caminhos mais curtos, mas ao nos certificamos com os venezuelanos sobre as condições da estrada, riscos, etc. com relação ao trajeto apontado, eles recomendavam as estradas indicadas pelas placas. Sendo assim dirigimos 90% do tempo à luz do dia e seguindo as placas.

Onde dormimos: Valencia (Barracas dentro de um motel), Mérida (Posada Suiza), Ciudad Ojeda (barracas dentro de um motel).

O que comemos de bom: As trutas e as fresas com crema (morango com chantili) em Mérida.

Pneu cheio: As vistas pela serra do Parque Nacional Sierra Nevada no caminho para Mérida, com belas casinhas, restaurantes, frutas e doces no caminho.

Pneu murcho: As placas das estradas que nos obriga a cruzar pelo “meio” de Caracas onde pegamos um trânsito enorme numa sexta-feira final de tarde! À lá São Paulo em saída de feriado prolongado.

Mérida e alguns retratos da Venezuela

Saímos de Ciudad Bolívar de manhã após nos desencorajarem a dirigir até El Tigre durante a noite. Naquela manhã percebemos o porquê: a estrada possui 100km de reta!! Isso mesmo, há apenas uma curva. Então nos explicaram que algumas vezes motoristas cochilam “entediados” pela morosidade do caminho tornando o trecho um pouco perigoso. De El Tigre seguimos para Barcelona e de lá resolvemos dar uma parada de 20 min em Boca de Uchire para ver a praia, dado que estávamos “colados” ao mar do Caribe. Boca de Uchire é uma praia de areias claras, com o mar um pouco aberto e, por estar perto de um centro urbano, não tem nada de muito especial. No entanto, ela fica localizada no Estado de Anzoategui numa região conhecida por ser a Rota do Sol do país, por suas belas praias e sendo fortemente movimentada pelo turismo, principalmente proveniente de Caracas. Puerto La Cruz é uma das principais cidades e o balneário ainda consta com outras praias e passeios para as ilhas próximas à costa. Ficará para uma próxima.

Como é de se esperar, a Expedição  4×1 nos proporciona alguns sentimentos interessantes que antes não tínhamos. Um deles é o fato de não darmos muito conta de que dia da semana estamos vivendo. Constantemente na estrada e sem regras ou rotina definida, a diferença entre ‘dias da semana’ X ‘finais de semana’, volta e meia passa despercebida e frequentemente nos pegamos sem saber que dia da semana estamos. Cedo ou tarde essa desatenção nos pregaria uma peça…Tiramos a areia dos pés e pulamos pra dentro da Tanajura. Saímos de Boca de Uchire seguindo as placas em direção à Caracas e Valencia (embora mais longo, esse era o melhor caminho para Mérida na opinião de inúmeros Venezuelanos que conversamos). Mas aquele dia era uma sexta e quando nos demos conta estávamos entrando em Caracas as 17h30!! Pra que?! Aqueles que moram em SP sabem bem o que é cruzar a marginal nesse horário, nesse dia da semana. Em Caracas foi parecido: rodamos aprox. 60 km em 4 horas!! O pior trânsito da expedição até agora! Já era de noite quando saímos de Caracas e isso nos forçou a parar em Valencia para dormir. Com a cidade lotada (provavelmente por causa de um discurso do Chávez nos próximo dias) montamos as barracas em um motel na estrada já saindo de Valencia.

Na manhã seguinte, logo cedo, saímos em direção a Mérida. Era hora de entrarmos pela primeira vez nos Andes, que para nosso espanto, chegava até a Venezuela – devemos confessar que até antes de pesquisarmos mais sobre a região, a maioria de nós desconhecia essa informação. Mérida é o principal polo turístico das cordilheiras venezuelanas e fica localizada a 1.600m de altitude.

A cidade que vivia da agricultura hoje tem no turismo sua principal atividade econômica e, ainda, a Universidade de Los Andes que atrai muitos estudantes e investimento em ciência e tecnologia. Mérida possui aproximadamente 300 mil habitantes e fica entre a Sierra Nevada e a Sierra La Culata. A estrada que leva até lá possui muitas curvas, algumas incríveis vistas do vale e rios da região e, quando menos percebemos, estávamos a pouco mais de 4.000 metros de altitude. Era 11h30 da manhã e a temperatura estava na casa dos 14?C quando resolvemos dar uma parada para algumas fotos e comprar alguns doces que eram vendidos em diversas lojinhas bem arrumadas na beira da estrada. Ali fomos abordados por um simpático médico Venezuelano que viajava com sua família inteira e ficou surpreso com a Expedição 4×1.

http://4x1.com.br/merida-e-retratos-da-venezuela/

Ofereceu-nos algumas cervejas e batemos um papo com ele por mais de meia hora! Aproveitamos que ainda estava claro e resolvemos dar uma volta rápida pelo Parque Nacional de Sierra Nevada, onde muitos turistas estavam fazendo piqueniques. O Parque possui muitas trilhas e picos muito altos com altitudes superiores a 4.000 m. O pico mais alto da Venezuela – pico Bolívar, 4.981 m – fica na região.

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Chegamos a Mérida já no final de tarde e depois de muito rodarmos e tentarmos parceria decidimos ficar hospedados no hostel Posada Suiza que tinha ótimos preços já que a cidade estava cheia por conta do final de semana. Mérida também é conhecida por possuir um dos maiores e mais longos teleféricos do mundo (que infelizmente está desativado há alguns anos por motivo de manutenção). Infelizmente nosso tempo na cidade acabou sendo curto. Primeiramente porque tínhamos mesmo um prazo enxuto, pois tínhamos data definida para estarmos em Cartagena para o envio da Tanajura. Além disso, tivemos de aproveitar o raro momento de boa conexão na Venezuela para gastarmos algumas horas atualizando nosso site e cumprir nossas atividades com alguns patrocinadores. Mas lá também tivemos um susto quando, no segundo dia ali na cidade, o Gustavo teve febre e dores de cabeça em horário muito similar ao do dia anterior, quando chegamos. Nessa noite ele vomitou algumas vezes e foi o suficiente para ficarmos preocupados, pois afinal, há algumas semanas atrás estávamos na Amazônia e aqueles sintomas eram muito similares ao da Malária. Sendo assim na manhã seguinte – após falar por telefone com a Dra Karina (do Ambulatório dos Viajantes no HC, com quem tínhamos contato) – ele foi logo cedo com o André para o hospital para fazer o exame específico que constataria se estava ou não com a doença. Após muitas horas ali e muita apreensão recebemos a boa notícia de que ele não possuía o protozoário da doença.

Embora a passagem tenha sido curta conseguimos conhecer bem a cidade e apreciar uma bela vista na subida ao páramo La Culata, próximo à cidade.

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O muito frequentado pico possui, além do incrível visual, barracas de artesanato local, doces típicos (como as deliciosas fresas com crema – morango com chantili), tirolesa e passeios a cavalos para crianças. Em uma das barracas de artesanatos conversamos por um longo tempo com um venezuelano que havia vivido no Brasil e que nos deu algumas bijuterias feitas por ele – curioso era o nome de sua amável filha de 12 anos – Rodaluna, onde o ‘Roda’ era em homenagem às rodas de capoeira!

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A passagem pela Venezuela foi intensa e algumas coisas nos chamaram muito a atenção:

1) O país ainda vive da forte influência política do governo autoritário de Hugo Chávez. Há mais de 14 anos no poder, o Presidente – que assumiu o governo com ideais de melhorias para as classes mais carentes, tais como erradicar o analfabetismo e a desnutrição – conseguiu ser reeleito mais de uma vez através de plebiscitos, aproveitando sua fortíssima influência perante essas classes, que compõe a maioria no país. Com um governo com fortes características socialistas e empresas nacionalizadas, Chávez também conta – claro – com amplo apoio da grande classe de servidores públicos. Em ano de eleições presidenciais pudemos presenciar uma grande movimentação de campanha ao longo de todo o país e algumas coisas nos “chocaram”, como por exemplo: músicas entoadas em um posto de gasolina em uma região humilde, próximo às fronteiras com Brasil e Guiana, em que suas letras bradavam contra o imperialismo norte-americano e a globalização. Evocando a revolução socialista e a luta armada, falando sobre os feitos de Chávez em favor das comunidades mais carentes; clamando nomes como Simón Bolívar, Che Guevara, entre outros revolucionários e chamando países sul-americanos de “vendidos” às políticas do ‘Tio Sam’.  Panfletos, outdoors e pinturas em paredes com a imagem de Hugo Chávez são vistas inúmeras vezes ao longo de todo o país – especialmente agora que as eleições serão em Outubro – e com maior frequência tal qual seja o desenvolvimento econômico da cidade. Ou seja, em cidades maiores e mais urbanizadas essa incidência cai um pouco e imagens de seu atual concorrente – Capriles Radonski – começam a aparecer um pouco mais.

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Conversando com alguns Venezuelanos sentimos que a classe média é a mais insatisfeita com o autoritarismo do atual presidente e alguns desses o acusavam de um populismo exacerbado. Por isso o aumento das imagens de Capriles nestas cidades mais ‘desenvolvidas’. Curioso também foi o fato de presenciarmos partidários Chavistas pintarem ou rasgarem as imagens de Capriles e, algumas vezes, pintarem ou colarem a de Chávez por cima.

2) Uma curiosidade que não sabíamos é que no nome do país contém uma referência a Simón Bolívar: Republica Bolivariana de Venezuela – O importante libertador sul-americano nasceu na Venezuela e teve grande influência política no país. Por isso, muitas praças, ruas, cidades e até o pico mais alto da Venezuela, recebem o nome de Bolívar.

3) Outra coisa que nos chamou muito à atenção são alguns costumes “norte-americanizados” no país. Uma das refeições mais tradicionais do país é o frango frito com batatas. Mas curioso é que muitos restaurantes servem o frango frito em baldes ou recipientes, acompanhados com salada de repolho (em inglês, coleslaw) e batatas-fritas – muito similar ao modelo de grandes redes americanas. Ficamos surpresos, também, com a forte penetração de mercado das montadoras Ford e GM. Numa análise precipitada com base nos dias que ficamos lá, daria pra arriscar que as duas juntas detém mais de 60% do mercado, principalmente com carros grandes (SUVs e Pickups) ou modelos antigos, das décadas de 70 e 80 como, por exemplo, o Ford Gran Torino. Mas é claro que eles podem dar-se ao “luxo” de andarem em carros de grande consumo de combustível: preço da gasolina é absurdamente barato!

E por falar em subsídio de combustível, apesar de o país possuir uma economia fortemente dependente do petróleo e ainda viver um regime autoritário, a Venezuela é um dos países que mais avançou na redução da desigualdade social na América Latina (de acordo com um estudo elaborado pela CEPAL em 2011 (clique aqui caso queira ver o estudo).

A passagem pela Venezuela foi muito especial para nós, pois pudemos conhecer mais a fundo um país com uma “personalidade” política tão forte e com características tão diferentes da realidade que estamos acostumados a ver em nosso país ou em vizinhos que nos são mais familiares. Pudemos presenciar também uma natureza rica e heterogênea que nos foi apresentada por um povo que – ouvido da própria boca de um Venezuelano – trabalha em busca de mudar a velha impressão de um país que, infelizmente, ainda é visto por muitos como um estranho desconhecido.

Para mais fotos da nossa passagem por Mérida, clique aqui,! =)